Blog de um algarvio, nascido e criado em Olhão, orgulhoso da sua terra, adepto fervoroso do S.C.Olhanense, licenciado em Biologia pela Universidade do Algarve, e mestre em Biologia da Conservação pela Universidade de Évora.
publicado por Ventura | Quarta-feira, 17 Outubro , 2012, 22:13

O meu gosto por aves começou à cerca de 4 anos.

 

Estava eu a iniciar o meu 3º ano na licenciatura em Biologia pela Universidade do Algarve. "Que rumo iria dar à minha vida académica assim que terminasse o curso?" era a pergunta que mais ecoava na minha cabeça. Felizmente tinha-me inscrito na cadeira de "Projeto". Cadeira esta que abriu após uma longa "luta", minha e dos meus colegas, para evitar a "clausura" de mais três cadeiras opcionais (e que belas eram para escolher...). 

 

"Estudo e Caracterização da Avifauna nas Lagoas do Vale do Garrão, Dunas Douradas e área de Vilamoura" foi o título decidido após reunião com os dois orientadores. Ao longo de um ano, visitaria todas as lagoas escolhidas e, na presença de um dos orientadores, um ornitólogo "amador", iria caracterizar não só a avifauna aquática mas também a evolução das populações de cada grupo de aves ao longo do ano.

 

As saídas começaram em Setembro de 2008. Todas as semanas saia de casa ainda de noite com Loulé como destino. Chegava ao ponto de encontro, bomba de gasolina da GALP, com o sol a dar os primeiros sinais no céu. Mudava então para o carro do meu orientador e dali dirigiamo-nos a todos os pontos. Havia dias em que faziamos mais de 200 quilómetros apenas numa manhã.

 

Logo na primeira saída tive conhecimento que o agora "colega de campo" fazia isto como hobbie. Semana após semana. Ainda me lembro da "seca" que apanhei nessa manhã. Falava de tudo. De aves, das suas saídas, dos seus achados, das suas discussões com a mulher por causa das aves. Ficou-me na memória o facto de no dia do nascimento da sua filha mais nova estar a passear numa ETAR em mais uma saída de campo. Maluco era o que me vinha à cabeça. Como era possível?

 

Estas saídas eram sempre iniciadas com os olhos semicerrados com o peso do sono das poucas horas dormidas. Com o tempo, o suplício começou então a ser substituido pelo entusiasmo da chegada de uma nova saída de campo. O que era feito com uns binóculos emprestados acabou por ser feito com os meus primeiros binóculos, uns NIKON Action VII 10X50, actualmente em uso. Muito aprendi com este "mentor", agora amigo. Com muita felicidade acabei por entregar o relatório. 17 valores. Valores estes que compensaram todo o sono perdido e todo o cansaço acumulado, saída após saída.

 

O mais importante seria chegar à conclusão de que era isto que queria seguir.

 

Posteriormente veio o mestrado. Uma aventura de dois anos nos montados alentejanos de Évora. E mais uma vez nas aves foram centrados todos os meus trabalhos, culminando na realização da tese de mestrado. Saber o efeito da presença de aterros sanitários na dieta da Cegonha-branca era o principal objetivo. Outros foram adicionados. No final, 18 valores. O fruto de todo o trabalho foi refletido na nota final.

 

Entre a licenciatura e o mestrado surgiu uma outra aventura, o RIAS. Novos amigos e novos companheiros nas saídas de campo. Neste percurso mais um grande amigo e "mentor". Um holandês mais novo um ano. Aos 13 anos, o tempo que perdia em casa a ver televisão ele perdia com o irmão no campo com os binóculos do pai a tentar identificar as espécies que via. Mais um "maluco", achava eu. 

 

Ás saídas de campo foram adicionadas sessões de anilhagem sob a sua responsabilidade. Esqueci-me de dizer que, com 25 anos, ele é anilhador credenciado. O que antigamente se iniciava com o raiar do sol, agora iniciava-se ainda de noite com a montagem das redes e de todo o material. Muitas vezes um dia de trabalho no centro era antecedido de uma sessão de anilhagem. Apesar de cansado, o dia de trabalho era sempre feito com um sorriso na cara. Mais um a quem tenho de agradecer grande parte do conhecimento que absorvi, e continuo a absorver.

 

Entretanto surgiu a Year List (tentar ver o maior número de espécies de aves num ano). Tudo por causa de um filme. Uma competição amigável (às vezes nem tanto :P) que todo o grupo aceitou. Chegar ao ponto de, por um punhado de espécies novas, em menos de uma semana, fazer Faro-Porto de avião, pegar no carro dar um "saltinho" a Miranda do Douro, rumar para sul em direcção à Serra da Estrela, e voltar ao Porto para apanhar o avião de volta ao Algarve. Agora era a vez de outros me chamarem "maluco".

 

Inicialmente o meu objetivo era ultrapassar as 150 espécies. Era o número aproximado de espécies que já tinha visto ao longo de 3 anos de observações. De 150 passou para 200, e o que era 200 passou agora a 250. Hoje o site do BUBO listings (existem muitos outros) marca-me 217 espécies. Encontro-me no meio da tabela de todos os que, em Portugal, atualizam as suas listas diariamente. Olho agora para o objetivo dos 250 com tristeza uma vez que dificilmente chegarei lá. Muito devido à minha actual situação profissional que me impede de prosseguir à mesma velocidade de antigamente. Contudo fico contente pelo esforço que fiz e por todas as espécies novas que adicionei à minha lista este ano (a ida à Serra da Estrela para ver Melro-d'água foi espectacular!).

 

Desde a finalização do mestrado, tenho me candidatado a várias bolsas de investigação com aves, e até com répteis, algumas muito interessantes. Sempre com o objectivo de que possa me abrir o caminho para um doutoramento. Contudo nunca tive a sorte de ser o escolhido. Ainda me está preso na garganta um concurso em que fiquei em segundo lugar quando apresentava todas as condições para tal. Um dos elementos do juri e o escolhido foram colegas de mestrado nos anos 90. Gosto de pensar que o escolhido tinha mais habilitações do que eu. Mas às vezes é dificil.

 

Hoje trabalho numa empresa de ecoturismo. Durante este Verão governei embarcações com partida na Fuseta. Descobri há pouco mais de dois meses, após tirar a carta de Patrão Local, que gosto de governar embarcações mas sei que ainda tenho muito para aprender. Fazia as saídas para observação de golfinhos, observação de aves e passeios na ria. Gostava de lidar com os turistas, fosse em português, em inglês ou em portunhol. Gostava do que fazia porque sempre conciliei todas as atividades com toda a minha formação académica.

 

Com o início da Low Season fui então transferido para Olhão. Estou em casa. Aqui sou guia durante o passeio da volta às ilhas-barreira (Deserta, Culatra e Armona) e responsável pela venda de bilhetes. Gosto sempre de meter conversa com os turistas. Perguntar de onde vêm, o que fazem, se gostam de ver aves. Muitos referem que tenho uma profissão de sonho por passear num local tão bonito como a Ria Formosa, por gostar de aves. Verdade seja dita, não me posso queixar. Durante os passeios tenho sempre à mão os meus binóculos. Sempre na busca de novas espécies e de aves anilhadas. Já tive resultados interessantes que lá para a frente publicarei. 

 

Comecei a escrever este post à cerca de três horas, já passa da uma da manhã. Não me chateio porque amanhã estou de folga. Demorei mais pela procura das palavras certas. Tudo isto para dizer que gosto de observar aves...


publicado por Ventura | Domingo, 13 Março , 2011, 12:55

(@Flickr)


publicado por Ventura | Domingo, 07 Março , 2010, 22:49

É um documentário de 25 minutos exibido na RTP 2 e RTP Internacional em 2007 sobre a existência da maior comunidade de cavalos marinhos do mundo na Ria Formosa. A descoberta foi feita por uma bióloga do projecto Sea Horse, uma instituição internacional que se dedica à protecção e conservação de cavalos-marinhos em todo o mundo.


publicado por Ventura | Sábado, 06 Março , 2010, 22:29

Após um grande temporal, o mar finalmente conseguiu abrir uma nova barra para o interior da Ria Formosa.

Num fenómeno que ocorre naturalmente a cada 50 anos, o mar galgou o cordão dunar da ilha da Fuseta, dividindo-a em duas. Embora não se saiba se é funcional ou não, é sempre assombroso ver o poder da Natureza.

Com esta abertura, muitas casas foram destruídas. E muitas mais serão se a barra ficar funcional e começar a alargar.

Por muitos estragos que possam ter causado está cientificamente provado que o ciclo de formação de novas barras ocorre naturalmente em posições mais a poente (como a que ocorreu) e após migrarem até a uma posição limite (onde a antiga se encontra) onde acaba por fechar e abrir uma novamente mais a poente, recomeçando o ciclo.

Nos vídeos seguintes podem verificar como a ilha se encontrava antes, durante e depois da formação da nova barra.

 

 

 

 


publicado por Ventura | Terça-feira, 02 Fevereiro , 2010, 12:51

Hoje, dia 2 de Fevereiro comemora-se o Dia Mundial das Zonas Húmidas, designado pelo Comité Permanente da Convenção de Ramsar, em comemoração da assinatura da Convenção sobre Zonas Húmidas em Ramsar, Irão, a 2 de Fevreiro de 1971.

Uma Zona Húmida é uma área de sapal, paul, turfeira ou água, natural ou artificial, permanente ou temporária, com água parada ou corrente, doce, salobra ou salgada, incluindo águas marinhas até seis metros de profundidade na maré baixa e zonas costeiras e ribeirinhas.

Mais informações aqui!


publicado por Ventura | Sexta-feira, 03 Julho , 2009, 23:46

No passado dia 1 de Julho, o Parque Natural da Ria Formosa esteve em destaque no programa que passa na RTP2 sobre questões ambientais Biosfera.

Normalmente quando um determinado assunto relacionado com a conservação chega a este programa não é por boas razões, e este também não foi excepção. Desde os problemas que tem afectado ao longo das décadas a Ria e o Parque até aos vários projectos que actualmente pôem-nos em perigo constantemente. Um programa que também demonstra o bom que se faz (ou se tenta fazer) com o objectivo de proteger, pelo menos, mais um dia este valioso património que muitos algarvios têm nas suas mãos e não sabem ou não querem mesmo saber. Um programa que também dá destaque a duas associações que todos os dias lutam em prol da conservação deste recurso: a ALMARGEM e a SOMOS OLHÃO. Para quem não e quiser ver cliquem aqui.


publicado por Ventura | Sábado, 04 Abril , 2009, 12:59

Olhão vai ser palco, pela 12ª vez, da tradicional "Vila de Amêijoas". Este evento gastronómico, organizada pela Formosa (Cooperativa de Viveiristas da Ria Formosa) e que conta com o apoio da Câmara Municipal de Olhão, vai decorrer no próximo fim de semana, de 9 a 12 de Abril, no Jardim Pescador Olhanense.

Durante este periodo, os visitantes poderão apreciar, entre outras iguarias, a forma peculiar de confeccionar uma das espécies de bivalves da Ria Formosa mais famosa no Mundo, a amêijoa.

Vai-se recordar a tradição dos pescadores olhanense que, em tempos idos, cozinhavam as amêijoas na pedra.

Estas são dispostas com a boca para baixo, numa chapa ou laje, que tem no centro uma pedra, à volta da qual se vão encostando os bivalves, um a um, fazendo circunferências de dentro para fora. São depois cobertas com caruma dos pinheiros, que se deixa arder. A amêijoa abre com o calor, saindo do seu interior a água que permite perceber que o alimento está cozinhado.

Este evento vai decorrer nos seguintes horários:

  • 9 de Abril, das 17h00 às 24h00
  • 10, 11 e 12 de Abril, das 12h00 às 24h00

publicado por Ventura | Quinta-feira, 02 Abril , 2009, 21:20

A Sociedade Polis Ria Formosa iniciou hoje a limpeza de mais de 800 toneladas de resíduos ali acumulados há décadas, retirando o entulho das áreas navegáveis e margens junto à Ilha da Culatra. Eliminar a poluição é um dos objectivos da empreitada, orçada em 728 mil euros e que visa retirar das ilhas-barreira e parte continental da ria embarcações velhas, entulho, artes de pesca degradas e outros resíduos.

A acção arrancou hoje na Ilha da Culatra - a mais populosa e também onde existem mais resíduos a ser retirados -, embora tivesse sido já feita uma intervenção, por terra, na zona nascente da Praia de Faro. Durante as próximas semanas, uma barcaça vai transportar todos os resíduos recolhidos pela equipa de cerca de dez homens, que, com a ajuda de escavadoras, tem realizado as operações, agora centradas na Culatra.

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